sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Uma antevisão, mas… não uma premonição


Sem querer fazer paralelismos ou “querenças”, acredito piamente nos nossos territórios e acima de tudo nas nossas gentes, para levar a cabo um projecto desta natureza. Temos territórios com potencial e lugares com sentimento (loci) que apelam à saudade dos nossos “avós”. Estes loci, tal como na genética, encerram a génese histórica, as características exclusivas e as capacidades, motivações e o potencial de futuro de todo um corpo. Já estão caracterizados, sob ponto de vista paisagístico, natural, antropológico, económico, social, enfim de todas as formas, quadrantes e perspectivas. Não são precisos mais estudos. Então o que falta? Implementar a inovação e a criatividade dos jovens e a experiência dos nossos “mayores”, que possam incutir o empreendedorismo “inato” destes jovens e ainda mais competência “nata”. A sinergia surge da interacção entre instituições de ensino superior, autarquias e fundações, associações, cooperativas e empresas. Querença, não surgiu por acaso. Aliás, o nome revela muito do que se quer com esse projecto. Loulé, é o reflexo de um Portugal que tem de mudar, quer queiramos quer não. Reparem neste paradigma. Os mais idosos dos “territórios desérticos” das “Terras do Demo”, deixavam os melhores terrenos, os mais produtivos, junto ás povoações, para aqueles filhos mais queridos, que os tratavam até às últimas e os das pedras, para os menos queridos, muitas vezes até de uma forma injusta, mas natural. Hoje, esses das pedras alugaram às eólicas e tiram num ano dividendos que os outros não tiram numa vida. Esta é uma história real. Este é sempre o resultado das inovações que se fazem no nosso País. Perdemos quase todos e ganha uma meia dúzia. Lá vêm as assimetrias do litoral, das fortunas e das mentalidades, que até Loulé será fértil. Mas lá, está-se a tentar inverter uma tendência, como que por osmose inversa. Por cá, temos que tentar fazer o mesmo adaptando à nossa realidade. E qual é? Querença, tem muita água, nós também. Têm orquídeas selvagens, nós também. Têm paisagem e agricultura, nós também. E mais? Temos rios, produtos de denominação de origem, queijo Serra da estrela, cabrito da gralheira, borrego, vitela de Lafões, maçã bravo de esmolfe, maçã da Beira Alta, castanha de Sernacelhe, vinha, vinho do Dão, floresta, cogumelos silvestres, mirtilos, framboesa, empresas empreendedoras, (Vasco da Rocha Pinto, Ervital, Frutisilves, Moinho da Carvalha Gorda, Cooperativa Agrícola do Távora,...), associações fantásticas com dinâmica que ajudam agricultores, produtores e outros actores a sobreviverem, e ainda cultura, história, museologia, arquitectura... Eu, estando cá há mais de uma década, "envergonho-me" de não ter conseguido ajudar ainda esta gente, que tem lutado todos os dias para sobreviver, com capacidade, inovação e esforço, como alguns daqueles que estarão cá amanhã. Não há últimas oportunidades, mas amanhã, estaremos muitos daqueles em que acredito, e para mim esta será a próxima oportunidade e tudo farei para que a possamos agarrar. Amanhã, vamos todos crescer e se isso não acontecer, pode ser que a culpa seja nossa. A batalha ainda nem começou e temos todos que estar preparados porque será, como diria Aquilino, uma Batalha sem fim.

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